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quarta-feira, 17 de junho de 2009


O colorido da primavera se fora dando início ao verão. O verde escuro da grama cedera espaço a um tom gasto, queimado pelo excesso de sol, mas a caneca continuava ali, na sua presença muda, se fazendo presente no meu dia. Segurada pela alça pentagonal durante o último gole, ela estava em minhas mãos enquanto eu tomava sol à beira da piscina. Acabado o gole, apoiei- a no chão. No mesmo instante, ouvi meu nome e virei para trás. Meu primo, que chegara de viagem, vinha correndo em minha direção para me dar um abraço e não vira nada além de mim. A caneca, que estava do meu lado, levara um chute exatamente na parte inferior da alça, o que deu intensidade o suficiente para fazer uma parábola no ar. Como se fosse uma bola estampada de oncinha, sofrera aquele chute que a arremessara para a outra borda da piscina.
Ela, que era estreita e, à medida que seguia para o topo se alargava como as patas de uma onça, se partira em três pedaços. Deles, dois rolaram para a grama, apenas a alça continuara na borda. Desde que a ganhara não utilizara de outra caneca que não ela. E agora estava ali, quebrada. Sabia que ela não poderia mais me acompanhar pela casa armazenando meus líquidos enquanto eu pensava. Mas, se fosse consertada, encontraria alguma função para ela realizar. Não poderia privar as pessoas de admirá-la. E eu, não poderia jogar fora uma companhia fiel. Na tentativa de consertá-la, os pedaços foram sendo encaixados. Primeiro, sua base fora encaixada com a superfície. Os pequenos pedacinhos que não viraram pó de cerâmica tentavam preencher os espaços vazios. A caneca, que se tornara minha companhia silenciosa por longos cinco anos, voltava a assumir sua forma. Depois de encaixada, a cola passou a invadir os cacos e, à medida que ficavam presos uns aos outros, aquele amontoado de pedaços partidos, voltava a ser um objeto completo.
Colocada em cima de uma mesa branca, passei a admirá-la depois de pronta. Não estava intacta como antes tinha, ao longo de seus limites, marcas da colagem que denunciavam seu acidente. Mas, o tom escuro do amarelo, e o preto, mais parecido com uma nuvem no céu carregada de chuva, contrastavam da mesma forma de antes com o branco da cerâmica, expondo sua vivacidade através das cores e tornando as marcas um mero detalhe.
Sem destino certo, a caneca foi limpa com um pano úmido. Ali, ainda na mesa branca da piscina, lembrei dos meus estudos. Enquanto tentava resolver os exercícios ela ficava na janela com vista para o jardim, bem em frente à minha escrivaninha. Levantando da mesa, coloquei-a em minhas mãos e fui em direção ao quarto. Empurrei a porta e olhei para janela onde o Sol começava a se pôr. Colocada em cima da mesinha, a caneca, teve depositado em seu interior as melhores canetas da minha coleção. Ali, além de decorar a mesa, exporia sua beleza a quem me visitasse e continuaria me acompanhando diariamente.
por Manuela Cal


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