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quinta-feira, 19 de novembro de 2009




Com os pulsos vermelhos, mariana olhou para as marcas que o pedaço da camisa deixou em seus braços. Horas mais cedo, sofrera um sequestro no estacionamento do mercado quando ajudava um recém conhecido, Paulo, a levar as compras para o carro. Abriu o porta-malas e, enquanto se inclinava para guardar as sacolas, recebeu uma pancada na cabeça. Mariana caiu desacordada e, depois de ter seus membros amarrados e os olhos vendados com um pedaço rasgado da camisa do sequestrador, foi jogada no porta-malas.
Retomada a consciência, percebeu o escuro que tinha a sua volta. Levantou assustada e bateu com a testa. Em sua cabeça, 5 kg de chumbo pareciam se movimentar de um lado ao outro. Apesar dos pulsos amarrados e da dor, tateou o espaço. Fechou as mãos como se fosse socar alguém, esticou os braços e bateu no capô. Enquanto batia, imaginou ser vítima de uma brincadeira de seus amigos que a aguardavam no estacionamento, mas a última coisa que lembrava era de ter ajudado Paulo. Continuou batendo forte. Tinha a esperança de sair daquele lugar. Depois de tanta agitação, seu coração batia acelerado. O porta-malas parecia ter diminuído e o ar começou a faltar. Na tentativa de se acalmar, parou de se mover e respirou fundo. A pulsação voltava ao normal quando sentiu o carro diminuir a velocidade. Seu coração voltou a disparar: Era chegada hora de descobrir o que acontecera.
Paulo desceu do carro, abriu o porta-malas, tirou as amarras dos pés de mariana, colocou-a no chão e a guiou até a porta. Ela suspirou. O ar invadiu seus pulmões passando-lhe a sensação de alívio.  Fez perguntas, mas obteve o silêncio como resposta. O mesmo vento que a trouxe alívio, trazia, agora, um cheiro. Era o perfume doce e suave que e ela sentira no mercado. Apesar de feminino, era o perfume que Paulo usava. Encostou-se na parede e foi escorregando até sentar no chão. O perfume que invadia seus sentidos touxe a suspeita de que Paulo fosse o autor daquela situação. Colocada em uma cadeira, teve a venda retirada dos seus olhos. Ele estava encapuzado e a roupa era diferente, mas ela viu o colar dele. Era a mesma gargantilha de ouro que ele usava no dia em que se conheceram. Apesar de nunca terem se visto fora do mercado, fazia um mês que eles se apresentaram na fila do caixa. Desde então, semanalmente se encontravam. A ficha caiu e ela entendeu que era vítima de um sequestro.
Paulo mandou-a calar e abaixar a cabeça. Mantendo-se calma, respirou fundo, abaixou a cabeça e observou o que pode no chão à sua volta. Fechou os olhos e prestou atenção em tudo o que ele dizia. Ele estava na sua frente, com o celular em mãos indo em direção ao ouvido. No outro lado da linha estava seu pai. Paulo fez o pedido de resgate e, enquanto saia do cômodo, Mariana o pediu que a soltasse. Não conseguia parar de pensar no pai, e o medo de que ele a rejeitasse tomou conta dela. Em sua mente ecoava seu último pedido a ele: que a esquecesse.
Analisou o ambiente em busca algo que a soltasse, ou a fizesse fugir. Mas dentro do quartinho só estava ela e a cadeira. Nenhum objeto ali poderia cortar a grade de ferro da janela ou da porta. Seu pensamento foi interrompido quando recebeu um prato com comida e teve seus braços soltos. Olhou para os pulsos. Sentiu o ardor das marcas vermelhas que ficaram e chorou. Não só pela dor física, mas também pela emocional. Desejou voltar no tempo para dizer o quanto ele, o pai, era importante para ela. Lembrou das tentativas dele de reaproximação e de sua frieza como resposta depois de ter ido embora de casa por não aceitar seu casamento. E agora não parava de pensar no quanto queria mais uma chance para dizer o quanto sentia sua falta.
Levantou da cadeira, olhou em volta e foi até a janela. Olhou para fora, mas só enxergou mato. Ouviu seu sequestrador dizer para nunca mais confiar em estranhos. Deitou no chão e acabou dormindo.
Acordou com Paulo gritando ao telefone. Dizia que ia deixá-la no lugar combinado, mas antes, pegaria o dinheiro. Levantou assustada com o grito dele mandando-a ficar em pé. Ele foi até ela, amarrou seus braços, vendou seus olhos e a guiou ate o carro.
O carro finalmente parou. Mariana foi guiada até uma árvore, onde permaneceu sentada com os olhos vendados. Ouviu alguém gritar seu nome. Era seu pai. Ele se aproximou, tirou a venda dos seus olhos e as amarras dos braços. Mariana levantou, abraçou o pai e pediu para voltar à casa.


por Manuela Cal


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